A medicalização da sociedade é um fenômeno que tem sido sinalizado por vários autores desde o século XIX, quando o saber científico se espalhava pelos vários domínios sociais. Mas foi a partir da década de 1940, com a introdução dos psicofármacos, que este fenômeno tornou-se cada vez mais intrusivo na vida cotidiana. A discussão que se pretende aqui diz respeito ao processo de medicalização da existência na contemporaneidade, tomando como base analisadora uma fenomenologia dos discursos desta medicalização na forma de tecnificação do viver cotidiano. Ao pensar a relação entre medicamento e tecnologia queremos problematizar o aprisionamento quase total da vida nas malhas de uma lógica técnica que pretende entender a existência humana por princípios deterministas. Percebemos que o homem moderno parece estabelecer com a técnica uma relação instrumental e utilitária em busca não apenas de um viver satisfatório, mas, essencialmente, de uma solução para quase todos os seus problemas. Há a im