Você já tentou se manter otimista durante uma catástrofe ou uma tragédia, durante operações militares sangrentas? Eu tentei e vou continuar tentando. – Andrei Kurkov, em Ucrânia – Diário de uma guerra Na madrugada de 24 de fevereiro de 2022, o escritor Andrei Kurkov foi acordado, em seu apartamento perto do centro histórico de Kyiv, com o barulho de explosões. Foram três. Uma hora mais tarde, outras duas. Eram mísseis russos, num ataque coordenado em vários pontos do país. “Foi muito difícil acreditar que a guerra tinha começado”, conta ele. Daquele momento em diante, a guerra passou a determinar seu modo de vida, seu jeito de pensar, seu jeito de tomar decisões. No dia seguinte, Kurkov deixou a capital sob ataque, se enfiou nas estradas congestionadas e partiu rumo a oeste. O escritor mais célebre do país, com dezenas de livros publicados e traduzido em mais de quarenta idiomas, tornava-se assim um dos milhões de desalojados ucranianos. Dias depois, refugiado com a família no aparta