A Autobiografia de Santo Inácio de Loiola, fundador da Companhia de Jesus, insere-se justamente entre os textos maiores do género autobiográfico: Inácio conta ao seu confidente, o português Padre Luís Gonçalves da Câmara, o que lhe aconteceu, desde que uma bala de canhão lhe partiu uma perna e o deixou às portas da morte (1521) até à época em que, já a viver em Roma, procurava conseguir aprovação papal para a projetada Companhia de Jesus (1538). Narrada e não escrita pelo próprio, posta na terceira pessoa identificada como “o Peregrino”, a Autobiografia de Inácio de Loiola ganha um sabor particular. Mais que os factos, aliás abundantes, o importante é a peregrinação interior que acompanha e, com frequência, precede a peregrinação exterior, sempre em busca do “maior serviço de Deus”. Desde o início, é significativa a fidelidade de Inácio à Igreja, mesmo quando esta se mostra, através dos seus bispos e inquisidores, pouco acolhedora ou hostil. Inácio tudo ultrapassa, confiado naquele Sen